quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Valença 167 anos de história: 1849/2016  I

Janete Pereira de Sousa Vomeri[1]

Valença, no dia 10 de Novembro de 2016  completará 167 anos de emancipação política. Terra habitada pelos índios aimorés e tupinambás, dois povos que tinham uma grande rivalidade. Os índios Aimorés (maldito)[2] mostraram grande resistência frente à dominação dos colonizadores, forçando-os a abandonarem a região. Valença fazia parte da Capitania de  São Jorge dos Ilhéus, sobre a jurisdição da Vila de Nossa Senhora do Rosário  de Cairu. Povoado do una foi uma  sesmaria pertencente a Pontes, quando por volta de 1557-1560, este recebeu de Men de Sá. (Campos, 1981).
Vale ressaltar  a relevância histórica dos nossos índios, todos dizimados do território de Valença, mas que deixaram seus legados históricos, na culinária, no artesanato, na cultura e nos saberes populares. Nos sítios arqueológicos das caieiras e sambaquis do Mutá, do distrito do guerem, Orobo e toda a jurisdição valenciana. O traço marcante da figura indígena ainda é forte na fisionomia de nossa população e nos registros de nossos teóricos como Risério, 2006 e Vargas, 1978. 
O Povoado do Una foi formado nas redondezas da cachoeira da CVI e era constituído  por um  engenho, uma casa de vivenda, uma roda d’água e  uma aldeia de índio dominada por Pontes.  Sebastião de Pontes, reconhecido como primeiro colonizador das terras do Una conseguiu durante seu período de predomínio manter uma relação bastante amistosa com os  habitantes desta região, os ameríndios[3]. O fidalgo possuía uma fazenda de gado conhecida como Ponta do Curral, primeira localidade das terras brasileiras a receber gado vacum
Foi por volta de 1574, que Sebastião de Pontes foi preso e enviado a Portugal, em limoeiro onde morreu, Este fato causou uma revolta aos índios locais que voltaram a atacar e destruir as povoações que aqui existia fazendo com que os moradores se refugiassem nas ilhas (arquipélago de Cairu)[4]  por medo dos ataques especialmente dos aimorés. 
Uma grande campanha contra os índios aimorés estava se formando, porém não conseguiram conter a fúria dos índios. Por conta dos ataques que a cidade sofria o governador Diogo Luiz viu a necessidade de criar um forte situado no Morro de São Paulo. A farinha era o produto mais importante para a economia valenciana, especialmente a de Sarapui, fato que fez com que os cidadãos fornecessem o produto para Salvador. 
Nessa mesma época, os povos indígenas voltaram a ameaçar a segurança do povoado, porém dessa vez  foi os Gueréns, que dominaram a cidade por trinta e cinco anos, fato que ficou conhecido como “Guerra dos Gueréns”. Motivo que fez com que Valença atrasasse o seu desenvolvimento colonial. 
Somente em 1651 conseguiram controlar a fúria dos Gueréns[4]. Apenas as ilhas que não sofreram nenhum dano com a fúria dos amerindios, que dominaram a região. E mesmo  tendo sido controlados, os Gueréns não pararam por aí, e continuaram com os ataques a Igreja de Santo Antônio dos prazeres, perto do rio Jequiricá, temos ainda as ruinas no local. Outra investidura foi na Casa forte e na Igreja de São João Batista, no povoado de Malpendipe, nas redondezas do rio dos reis, estrada do Guaibim.
Com a peste por volta do final do século XVII, os índios caiam aos milhares e muitos aimorés, gueréns e tapuias foram dizimados com doenças dos brancos. Este fato contribui substancialmente para  dizimar os agrupamentos aimorés. 
Entre 1779 e 1783 no governo do Marquês de Valença, foram tomadas medidas para o desenvolvimento da cidade, elas contribuíram para aberturas de estradas ligando o litoral de Valença ao sertão da região de Areia, atual cidade de Ubaíra, tendo por finalidade o transporte de boi para a alimentação do povoado, que se sustentavam apenas com peixes, mariscos e mandioca. Por esta medida do Marquês o povoado do Amparo, receberá o nome de Valença em homenagem as benfeitorias do citado  nobre. 
Em janeiro de 1799[5], Valença fora elevada à categoria de vila, por indicação do Ouvidor Baltazar da Silva Lisboa, tendo o nome de Vila de Nova Valença do Sagrado Coração de Jesus, e somente em 26 de setembro1801 inaugurado a Matriz do Sagrado Coração de Jesus, neste interim a primeira bandeira da cidade é confeccionada, bem como, as leis posturais culminando na formação da Câmara de Vereadores. Em 10 novembro de 1849 foi assinado documento que promovia a Vila de Valença à Cidade de Valença, nome em homenagem ao 4° Marquês de Valença, D. Afonso Miguel e Castro, governador da Bahia.
O desenvolvimento econômico da nova vila foi impulsionado pela instalação da fabrica Todos os Santos, no ano de 1844 que começou a fabrica suas varas de tecidos finos  em 1847. Primeira Fabrica de tecidos fino do Brasil, a Fabrica todos os santos foi também a primeira movida a energia hidráulica.
Este ano, a cidade de Valença completará 167 anos em 10 de novembro, porém são por volta de 459 anos de colonização que deixaram suas marcas e estigmas, na vida dos valencianos. Necessitamos de muitas coisas, de mudanças significativas e podemos citar: Social, cultural, educacional e política.
A nossa história está repleta de fatos positivos; de ações que valem a pena lembrar, especialmente na figura do povo, operários, marisqueiras, artesões e calafates, mestres navais, poetas e fazedores de cultura, ganhadeiras, mestras e mestres de saberes, pais e mães de santo, professoras e professoras,  o povo mais simples que construíram, construí e faz nossa Valente Valença.
Pensar a história de uma terra como Valença é debruçar-se sobre uma gama de proposituras e aspectos que fizeram o passado, determinam o presente e preconiza um futuro. Mas temos muito que nos ater e buscar, no sentido de podermos gerir um município rico de bens patrimoniais materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis, bem como naturais, mas pobres de ações efetivas que viabilizem políticas públicas que utilizem tais patrimônios ao bem comum do povo valenciano e que criem dispositivos que facilitem a cultura do cuidar e preservar como legados de nossos antepassados e heranças para as novas gerações.

REFERENCIA 

CAMPOS, Jose da Silva. Crônicas das capitanias de são Jorge dos Ilhéus, UESC, 1981

OLIVEIRA, Edgar Otacílio, Valença dos primórdios a contemporaneidade, EGBA, Salvador 2006.

OLIVEIRA, Waldir Freitas, Um surto da industrialização na cidade de Valença. Centro de Estudos  Baianos, UFBA, 1985.
MARTINS FILHO, Gentil Paraíso Martins. Livro dos Sonhos: Memórias. 3ª Ed.  Ilhéus –Bahia 2008

RISÉRIO, Antonio . Tinharé - História e cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador BYI Projetos Culturais LTDA, 2003.





[1] Janete Pereira de Sousa Vomeri , Pedagoga Escola/Empresa, Historiadora, especialista em Metodologia e Didática do ensino superior , Psicopedagoga Institucional e Clinica , Professora da FAZAG , Professora de Cairu,  Responsável pelo Memorial da Câmara Municipal de Valença.
[2] Aimorés (malditos) Nome dado pelos colonizadores aos ameríndios

[3] Ameríndios – índios das Américas 
[4] O município de Cairu é um arquipélago formado por 26 ilhas .
[5] Conforme Galvão a data de 1799 deveria ser tomada como emancipação politica por conta, organização politica que já configurava a vila como um centro de navegação e transações econômicas muito forte do recôncavo. 

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