sexta-feira, 18 de outubro de 2013

CULTURA EM VALENÇA: SUAS INFLUÊNCIAS E INTERAÇÕES


CULTURA EM VALENÇA: SUAS INFLUÊNCIAS E INTERAÇÕES

Janete Vomeri[1]


A cultura é um conceito amplamente analisado e articulado no cenário atual, novas políticas públicas culturais estão sendo implementadas, destas, Os sistemas Municipais de Cultura em todo território nacional é um desafio a ser vencido, isso porque só agora ver-se ações efetivas sendo tomadas neste contexto. A cultura sempre fora vista como prima pobre da educação[2], pelas políticas de governo. Falar de cultura em Valença é falar da própria história da cidade. Não é possível pontuar a cultura local sem buscar raízes em culturais indígenas, negras e européias. As construções seculares, as manifestações as expressões culturais locais refletem a magnitude e a riqueza cultural do povo valenciano.
Um olhar mais pormenorizado na arquitetura de Valença nos leva a uma viagem, nos reporta a períodos históricos que só conhecemos através das falas, lendas e histórias que a população mais velha conhece ou soube dos seus pais e antepassados.
As maiores influencias culturais de Valença  desde a sua fundação por volta de 1557, diz respeito a presença dos povos indígenas presentes nesta região , que são: os tupinambás e Aimorés destes últimos ( tapuias e Gueréns). Sua forma de vida, organização social, gastronomia, com base na mandioca cozida, e também ralada e transformada em farinha  e beijus, caracterizam o fazer e o saber cultural local. Na pesca os peixes curtidos no sal e secos ao sol, o moquém, dos peixes e carnes, conhecidas hoje como moquear. Algumas das formas de pescar em canoa e nos seus artefatos de pesca. Na construção de casa de pau-a-pique ( casa de taipas), na linguagem e incorporação de vocabulário das línguas tupi e guarani, destas palavras podemos citar : una significa preto, por isso rio de águas negras, tinharé – ou terras que avançam ao mar, Cairu – casa do sol, boipeba – cobra chata.  Ate mesmo a higiene – foram os índios que ensinaram aos brancos europeus. O  banhar-se todos os dias, não  era costume europeu, mas indígenas, estas mudanças culturais têm também a influência climática, estamos num país tropical por natureza. Estas são algumas das inúmeras contribuições indígenas.
Dos negros  africanos  fugitivos dos navios negreiros nas costas baianas, especialmente os que refugiavam nas cidades circunvizinhas como Cairu, Ituberá , Nilo Peçanha e na própria Valença , que deram inicio aos quilombos e por isso temos  uma grande quantidade de comunidades quilombolas no Baixo Sul . Destes temos a influência no vestuário, na alimentação como os pirões, as moquecas com dendê, a própria transformação da mandioca, as musicas, as danças, os toques de tambores, a moda de roupas coloridas e floridas, uma nuance de cores e florais característicos, os dialetos incorporados na nossa linguagem, não é a toa que a Bahia e o estado mais negro no Brasil, a religião de matriz africanas , entre elas o candomblé . A influência negra é uma das mais marcantes na cultura de Valença. Todas as representações culturais locais como: zambiapunga, argüida, samba de roda, samba de enrolar, rezadeiras, Marisqueiras, Ganhadeiras (feirantes) são de raízes africanas.
Dos Brancos europeus portugueses, espanhóis, italianos , holandeses, irlandeses  os costumes das quadrilhas de são João , as rendas  portuguesas, gastronomia ( massas ), pasteis doces , incorporação do açúcar manufaturado. A moda e o vestir-se com muitas roupas, as construções imponentes, os códigos de ética e posturas trazidos do direito europeu. A industrialização.  
Atualmente, a cidade esta promovendo uma regulamentação das leis municipais de implementação a cultura formalizando e criando fundos de manutenção da cultura através do Sistema municipal de cultura. Estas leis promoverá ações efetivas no campo da cultura e de sua sustentabilidade.A promoção de políticas publicas de estado cria-se instrumento de fomento e desenvolvimento cultural. Já estão em tramites como a lei  do sistema , o PPA da cultura , que é o plano plurianual com previsões de realizações para quatro anos de governo, entre essas políticas  tem-se a  previsão de restauração, preservação, e tombamento de bens materiais , imateriais e naturais . De este objetivo maior prever-se a restauração dos bens arquitetônicos da cidade e zona rural e acessibilidade aos sítios históricos do município. Registro e mapeamento destes bens como um todo. Ações e realizações de festivais, mostras, encontros, palestras e festas do calendário cultural local, dentre outras. Recentemente, ocorreu o congresso do PPA, que convidou a população Valenciana para debater e sugerir ações em vários campos, entre eles o da cultura. Vimos que a população ainda não tem a cultura de participar destes momentos propícios para que eles discutam as necessidades locais, especialmente culturais.

A SEGREGAÇÃO CULTURAL

 A segregação cultural desagrega, reprime e nega as raízes do nosso povo. Um povo sem cultura, sem memória e sem história é um povo que não existe. A nossa vida é marcada pelas heranças culturais, que recebemos como legado de nossos pais, nossa gente. A negação a separação, mata a verdadeira manifestação de um povo. Ao segregar os povos deixam de receber influencias da diversidade cosmopolita do povo.
Os espaços culturais, os equipamentos culturais devem ser acessados por todos independente da cor, da religião, da política, da escolha sexual. O acesso aos bens culturais facilita o respeito à  nossa diversidade cultural. A segregação por se só, já é um grande problema. Todos somos iguais perante a lei , diz a constituição no seu artigo 5º e iguais nas diferenças . A nossa diferença pode ser cultural,  não pode ser viés da segregação. Não há cultura melhor ou pior, há multiculturas, há pluralidade culturais, há diversidade de expressão e todas são importante na formação ético –moral, social, política e educacional dos nossos jovens.

SUSTENTABILIDADE DA CULTURA

Valença não é uma cidade sustentável, especialmente no campo cultural. Somos ricos de patrimônios intangíveis e pobres, pois não sabemos como utilizá-los a nosso favor. Nossa riqueza e imaterial. O imperativo é como transformar essas riquezas em bens tangíveis? (Lala Deheinzelin , 2012).
Não há políticas publicas voltada a sustentabilidade como um todo, existem hoje um trabalho de base, formulando políticas, que venham a promover a sustentabilidade da cidade não só na cultura, mas em todos os demais viés da sustentação do município, meio-ambiente, infraestrutura, saúde e educação entre outras.
Em Valença são feitos projetos de acesso facilitado aos bens e equipamentos culturais? O Centro de Cultura promovem através de projetos, palestras, mostras e apresentações teatrais com preços populares para que a população valenciana tenha acesso aos espetáculos ali desenvolvidos e patrocinados. A secretaria de cultura Municipal vem organizando conferencias municipais e neste ano, a territorial entre os dias 18 e 19 de agosto no Centro de cultura de debatendo  temas voltados as políticas culturais . Traz também o Balé folclórico da Bahia na abertura desta conferencia. Patrocina ações de apoio aos grupos culturais locais em parceria com as demais secretarias de governo levando nossos grupos a outros municípios e a Salvador para apresentação em praça pública.
Hoje temos um acesso a bibliotecas, as informações através da internet , as novas tecnologia democratizou o acesso as informações, as redes sociais são um forte aliado ao combate a segregação. Também a comunicação através de rádios AM e FM da cidade é um aliado na divulgação das ações culturais locais , levando não só a informação ao homem da cidade , mas ao homem do campo e aos grupos remanescentes quilombolas . Somos um município com uma área territorial imensa e sabemos que só através do radio é possível, ainda no século XXI ,chegar as informações para estes .
Falar de Cultura e suas interfases é falar de multiculturas, multi representações, da diversidade e da amplitude, que a cultura representa para Valença e seu território de identidade.




[1] Janete Vomeri – Pedagoga, Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior, Historiadora, Psicopedagoga Institucional e Clinica,Professora, Agente Administrativa, coordenadora do Memorial da Câmara , Pesquisadora e Professora da FAZAG. vomerijanete@gmail.com
[2] Grifo nosso

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