Valença 167 anos de
história: 1849/2016 I
Janete Pereira de
Sousa Vomeri[1]
Valença, no dia 10 de Novembro de 2016 completará 167 anos de emancipação política.
Terra habitada pelos índios aimorés e tupinambás, dois povos que tinham uma
grande rivalidade. Os índios Aimorés (maldito)[2] mostraram
grande resistência frente à dominação dos colonizadores, forçando-os a
abandonarem a região. Valença fazia parte da Capitania de São Jorge dos
Ilhéus, sobre a jurisdição da Vila de Nossa Senhora do Rosário de Cairu. Povoado do una foi uma
sesmaria pertencente a Pontes, quando por volta de 1557-1560, este recebeu de
Men de Sá. (Campos, 1981).
Vale ressaltar a relevância histórica dos nossos índios,
todos dizimados do território de Valença, mas que deixaram seus legados
históricos, na culinária, no artesanato, na cultura e nos saberes populares.
Nos sítios arqueológicos das caieiras e sambaquis do Mutá, do distrito do
guerem, Orobo e toda a jurisdição valenciana. O traço marcante da figura
indígena ainda é forte na fisionomia de nossa população e nos registros de
nossos teóricos como Risério, 2006 e Vargas, 1978.
O Povoado do Una foi formado nas
redondezas da cachoeira da CVI e era constituído por um engenho,
uma casa de vivenda, uma roda d’água e uma aldeia de índio dominada por
Pontes. Sebastião de Pontes, reconhecido como primeiro colonizador das
terras do Una conseguiu durante seu período de predomínio manter uma relação
bastante amistosa com os habitantes desta região, os ameríndios[3]. O fidalgo possuía
uma fazenda de gado conhecida como Ponta do Curral, primeira localidade das
terras brasileiras a receber gado vacum.
Foi por volta de 1574, que Sebastião de
Pontes foi preso e enviado a Portugal, em limoeiro onde morreu, Este fato
causou uma revolta aos índios locais que voltaram a atacar e destruir as
povoações que aqui existia fazendo com que os moradores se refugiassem nas
ilhas (arquipélago de Cairu)[4] por medo dos ataques
especialmente dos aimorés.
Uma grande campanha contra os índios
aimorés estava se formando, porém não conseguiram conter a fúria dos índios.
Por conta dos ataques que a cidade sofria o governador Diogo Luiz viu a
necessidade de criar um forte situado no Morro de São Paulo. A farinha era o
produto mais importante para a economia valenciana, especialmente a de Sarapui,
fato que fez com que os cidadãos fornecessem o produto para Salvador.
Nessa mesma época, os povos indígenas
voltaram a ameaçar a segurança do povoado, porém dessa vez foi os
Gueréns, que dominaram a cidade por trinta e cinco anos, fato que ficou
conhecido como “Guerra dos Gueréns”. Motivo que fez com que Valença atrasasse o
seu desenvolvimento colonial.
Somente em 1651 conseguiram controlar a
fúria dos Gueréns[4]. Apenas as
ilhas que não sofreram nenhum dano com a fúria dos amerindios, que dominaram a
região. E mesmo tendo sido controlados,
os Gueréns não pararam por aí, e continuaram com os ataques a Igreja de Santo
Antônio dos prazeres, perto do rio Jequiricá, temos ainda as ruinas no local.
Outra investidura foi na Casa forte e na Igreja de São João Batista, no povoado
de Malpendipe, nas redondezas do rio dos reis, estrada do Guaibim.
Com a peste por volta do final do
século XVII, os índios caiam aos milhares e muitos aimorés, gueréns e tapuias
foram dizimados com doenças dos brancos. Este fato contribui substancialmente
para dizimar os agrupamentos
aimorés.
Entre 1779 e 1783 no governo do Marquês
de Valença, foram tomadas medidas para o desenvolvimento da cidade, elas
contribuíram para aberturas de estradas ligando o litoral de Valença ao sertão
da região de Areia, atual cidade de Ubaíra, tendo por finalidade o transporte
de boi para a alimentação do povoado, que se sustentavam apenas com peixes,
mariscos e mandioca. Por esta medida do Marquês o povoado do Amparo, receberá o
nome de Valença em homenagem as benfeitorias do citado nobre.
Em janeiro de 1799[5], Valença fora elevada à
categoria de vila, por indicação do Ouvidor Baltazar da Silva Lisboa,
tendo o nome de Vila de Nova Valença do Sagrado Coração de Jesus, e somente em
26 de setembro1801 inaugurado a Matriz do Sagrado Coração de Jesus, neste
interim a primeira bandeira da cidade é confeccionada, bem como, as leis
posturais culminando na formação da Câmara de Vereadores. Em 10 novembro de
1849 foi assinado documento que promovia a Vila de Valença à Cidade de Valença,
nome em homenagem ao 4° Marquês de Valença, D. Afonso Miguel e Castro,
governador da Bahia.
O desenvolvimento econômico da nova
vila foi impulsionado pela instalação da fabrica Todos os Santos, no ano de
1844 que começou a fabrica suas varas de tecidos finos em 1847. Primeira Fabrica de tecidos fino do
Brasil, a Fabrica todos os santos foi também a primeira movida a energia
hidráulica.
Este ano, a cidade de Valença
completará 167 anos em 10 de novembro, porém são por volta de 459 anos de
colonização que deixaram suas marcas e estigmas, na vida dos valencianos.
Necessitamos de muitas coisas, de mudanças significativas e podemos citar:
Social, cultural, educacional e política.
A nossa história está repleta de fatos
positivos; de ações que valem a pena lembrar, especialmente na figura do povo,
operários, marisqueiras, artesões e calafates, mestres navais, poetas e
fazedores de cultura, ganhadeiras, mestras e mestres de saberes, pais e mães de
santo, professoras e professoras, o povo mais simples que construíram,
construí e faz nossa Valente Valença.
Pensar a história de
uma terra como Valença é debruçar-se sobre uma gama de proposituras e aspectos
que fizeram o passado, determinam o presente e preconiza um futuro. Mas temos
muito que nos ater e buscar, no sentido de podermos gerir um município rico de
bens patrimoniais materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis, bem como
naturais, mas pobres de ações efetivas que viabilizem políticas públicas que
utilizem tais patrimônios ao bem comum do povo valenciano e que criem
dispositivos que facilitem a cultura do cuidar e preservar como legados de
nossos antepassados e heranças para as novas gerações.
REFERENCIA
CAMPOS, Jose da Silva. Crônicas
das capitanias de são Jorge dos Ilhéus, UESC, 1981
OLIVEIRA, Edgar Otacílio, Valença
dos primórdios a contemporaneidade, EGBA, Salvador 2006.
OLIVEIRA, Waldir Freitas, Um surto da industrialização na cidade
de Valença. Centro de Estudos Baianos, UFBA, 1985.
MARTINS FILHO, Gentil Paraíso Martins. Livro dos Sonhos:
Memórias. 3ª Ed. Ilhéus –Bahia 2008
RISÉRIO, Antonio . Tinharé -
História e cultura no Litoral Sul da Bahia. Salvador BYI Projetos Culturais
LTDA, 2003.
[1] Janete Pereira de Sousa Vomeri , Pedagoga Escola/Empresa, Historiadora,
especialista em Metodologia e Didática do ensino superior , Psicopedagoga
Institucional e Clinica , Professora da FAZAG , Professora de Cairu,
Responsável pelo Memorial da Câmara Municipal de Valença.
[4] O
município de Cairu é um arquipélago formado por 26 ilhas .
[5]
Conforme Galvão a data de 1799 deveria ser tomada
como emancipação politica por conta, organização politica que já configurava a
vila como um centro de navegação e transações econômicas muito forte do
recôncavo.
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